Texto: Siga as luzes... as luzes, menina!

De pequena, me admirava com as luzes, sejam elas do pisca-pisca de natal, letreiros de supermercados, hotéis ou shoppings e quando escurecia, eu gostava de subir no muro mais alto e ver de cima as luzes brilhando, algumas pessoas andando. Gostava de sentar e ficar olhando as estrelas aparecerem. "Siga-as!" dizia minha bisavó. "Seguir o quê, vó?" eu perguntava desconsertada. "As luzes, minha filha, as luzes!" e a velha saía e ia cozinhar alguma coisa para o jantar. Não entendia por que ela dizia com tanto fervor para segui-las e muito menos sabia como segui-las. Quando me mudei, ela olhou bem em meus olhos e disse "não se esqueça das luzes" todos juravam que a coitada estava ficando maluca. E ela estava mesmo, maluca de certa! Quando ela morreu, uma estrela brilhou mais forte e as luzes que eu via se tornaram mais intensas, seria meus olhos me pregando uma peça das boas? Quem dera se fosse! Demorei muito tempo para entender que as luzes me guiariam e que a estrela mais brilhante seria ela. Meu Deus, que velha maluca, será que ela me contagiou com sua doideira? Será que tem cura? Ou será mesmo que as luzes que ela me mandou seguir vão me levar para onde eu quiser ir? Ainda posso ouvir sua voz profunda dizendo-me "elas vão te guiar, confie nelas" bem que meu pai diz que venho de uma família de estranhos. Mas ora, sei que sou louca, louquinha de pedra e também sei que não sou cega, posso perceber as luzes me guiando. Aquelas luzes que você olha e só vê luzes? Eu vejo sonhos nelas, eu vejo de tudo menos luzes normais.