2015

                                                              "We're fireworks with a wet fuse" 

"Todas essas pessoas implorando nas redes sociais para que 2015 seja melhor e chorando ao vento para que suas lágrimas alcancem alguém que não está interessado em consolar corações perdidos na própria amargura.
Todas essas pessoas se recusando a levantar do sofá para procurar algo melhor, esperando que algo que não seja chuva caia do céu.
Todas essas solidões ambulantes procurando esperança em latões de lixo sem olhar para cima e ver que não há nada ali dentro, além de cascas de bananas e latinhas enferrujadas.
Todas esses personagens bêbados criados por gente que não soube decifrar o próprio eu, procurando uma boca para beijar e um copo cheio de vodka para entornar o caneco.
Tantas pessoas míopes procurando seu amor nas ruas de São Paulo, mas tudo não passa de um borrão iluminado e sujo.
É tanta gente perdida, com GPS interno quebrado mandando virar à esquerda na primeira rua sem saída que encontrarem. Tantos olhos marejados quase saltando de suas órbitas à procura de algo que nem 2015 será capaz de trazer.
Centenas de pessoas misturadas no centro da cidade, absortos em pensamentos esquisitos sobre o que farão quando o comércio fechar que nem sequer percebem que estão esbarrando em sentimentos alheios. Todos os dias em meio a algomeração humana, roubamos para si mesmos um pouquinho de sentimento de outras pessoas. Um bocado de amor daquele hippie vendendo filtro dos sonhos. Um pedacinho de raiva do vendendor de CD’s piratas. Um pouco de esperança do homem cheiroso que passou ao seu lado… Somos ladrões de sentimentos e nem percebemos e no final do dia, jogamos tudo na lixeira após assistir trinta minutos da novela das nove.
Sem suplicar, chorar ou sapatear apenas tenho um pequeno desejo para 2015: que nos tornemos ladrões de verdade. Que roubemos os bocadinhos de sentimento que sempre furtamos por aí, mas que dessa vez fiquem guardados para serem roubados no dia seguinte por outra pessoa. Que nessa vida urbana de corre-corre, espero que as pessoas entendam que o que sentem no fim do dia seja angustia ou ânimo, não eram delas quando saíram de casa. Que entendam que já que foi roubado e não será devolvido tão cedo, que seja bem utilizado."